Obrigada por não fumar
Apesar de eu não gostar que fumem perto de mim, não gostar do cheiro de cigarro que os fumantes carregam em seus corpos e passam para nossas roupas e cabelos diariamente, gostei muito do filme "Obrigado por fumar".
Lembrei-me automaticamente da ligação entre um argumento do filme (talvez não o central, mas um periférico) e o de um professor de filosofia da UFRS que escreveu no Estadão sobre o plebiscito do desarmamento.
O argumento que identifiquei no filme, um deles, é que fumar ou não é opção individual, uma questão subjetiva que envolve desde educação até gosto pessoal, não temos o direito de retirar o direito de escolha de cada um. Para mim o momento auge desse argumento no filme é quando a personagem principal é perguntada se ofereceria cigarro a seu filho quando este completasse 18 anos.
O professor anteriormente mencionado (não consigo me lembrar de seu nome) defendia o voto pelo NÃO no plebiscito que, na minha opinião nada tinha a ver com o desarmamento uma vez que apenas proibindo a venda legal de armas de fogo seria ilusão pensarmos que desarmaríamos bandidos. Seu argumento também era pela liberdade de escolha, mais do que isso, pela liberdade de opções. Uma arma no Brasil não pode ser comprada legalmente sem uma bruta burocracia: papelada, cursos, porte etc. Bandidos, ladrões, assassinos, traficantes, enfim, não possuem armas legais.
O fato de a justiça ser ineficiente no Brasil não pode fazer com que se tire o direito do cidadão de escolher se vai ter ou não uma arma em casa, é tampar o sol com a peneira. O direito de ter uma arma deve ser assegurado, o que você vai fazer com ela é que é problema do Estado.
Provou-se morrerem mais crianças por afogamento em piscinas do que por arma de fogo e nem por isso vamos proibir piscinas, derrubado o argumento do SIM pelo qual tentava defender o fato de crianças serem vítimas de armas guardadas em casa, poxa, eu sempre me cortava com as facas de casa quando criança e nem por isso proibiram facas. Outra que quando alguém quer suicidar o faz de qualquer forma (argumento estúpido do SIM pelo qual afirmava que armas de fogo são usadas em suicídios). O mesmo para assassinatos do tipo "caseiro" (entre conhecidos, familiares...), mata-se com a arma, sem a arma e apesar da arma, vide o caso Suzane von Richthofen.
Acho que já está claro há muito tempo para todo brasileiro que aquele plebiscito era só para gerar uma polêmica e despistar outros fatos, até porque, o que isso influenciou na sua vida? Na minha nada. Continuo sem interesse em comprar armas. Seria muito melhor um plebiscito sobre a obrigatoriedade do voto, não? Um plebiscito sobre o direito ao casamento gay, aposto que você conhece mais casais que querem legalizar suas situações conjugais do que pessoas que tenham armas em casa.
Voltando ao filme, quantas pessoas você conhece que pararam de fumar por causa daquelas fotos presentes nos maços de cigarro? Eu não conheço nenhuma. E quantas pessoas você conhece que fumam por não saber que o cigarro faz mal? Eu não conheço nenhuma. Bom, é só ver quantos médicos, químicos e afins fumam... Também é uma questão de gosto, vicia? E daí? De certa forma McDonald's vicia (de maneira talvez não física mas psicológica e ideológica com certeza), como a Coca-Cola, como as novelas da Globo, como a Globo num geral, e todos eles além de criar dependência, fazem mal à sua saúde, física ou intelectual, e são atraso de vida, mas a sociedade não julga assim, a mídia não julga assim e, assim vai.
O falso moralismo está presente em todos os assuntos de nossa vida. Muitos ficarão escandalizados com "Obrigado por fumar" mas...
Filmes que têm tudo a ver:
- Café e cigarros de Jim Jarmush
- O Informante de Michael Mann